As Mães Más da Dramaturgia

Dando continuidade às listas, elejo as 5 mães mais más da dramaturgia.

5) Neli (Beth Goulart) em Paraíso Tropical: Mais uma alpinista social de Gilberto Braga, Neli era uma dona de casa classe média, absolutamente inconformada com a vida que levava ao lado do marido Heitor (Daniel Dantas) e das filhas Joana (Fernanda Machado) e Camila (Patrícia Werneck). Fútil e deslumbrada, articulava o namoro da filha caçula com Fred (Paulo Vilhena), executivo do grupo Cavalcanti e posteriormente, seu casamento. Não era exatamente uma vilã, mas entra na lista porque usava de meios, digamos, pouco ortodoxos para alcançar seus objetivos. Na reta final, é abandonada pelo marido e revela que a filha mais velha é fruto de um rápido envolvimento com o cafetão Jáder (Chico Diaz). Desprezada e sozinha, come o pão que o diabo amassou, purga seus pecados e acaba perdoada e regenerada.

  4) Maria (Nívea Maria) em A Casa das Sete Mulheres: A mais amargurada das mulheres da Estância da Barra, escondia a sete chaves o seu envolvimento amoroso com um mestiço, e tolhia as filhas Manuela (Camila Morgado), Rosário (Mariana Ximenes) e Mariana (Samara Felippo) de todas as formas. O que a princípio soava como mero zelo, acabou ganhando contornos trágicos e antagônicos, tamanho o veneno da personagem. Proibindo o romance de Manuela com Garibaldi (Thiago Lacerda), indiretamente condenou a filha à solidão, já que ela preferiu permanecer fiel ao seu amor de juventude a ceder às pressões da mãe e fazer um casamento de arranjo; a do meio, Rosário, foi enviada para um convento por sonhar com o capitão caramuru ghost Estevão (Thiago Fragoso), integrante do exército de Bento Manuel (Luís Mello), arqui-inimigo de Beto Gonçalves e acabou vendo gente morta e, conseqüentemente, morrendo; mas como na ficção o feitiço sempre vira contra o feiticeiro, com a espevitada caçulinha, Maria não conseguiu se impor. Mariana fez a mãe provar do próprio remédio quando se envolveu com o mestiço João Gutierrez (Heitor Martinez), engravidou e viveu feliz pra sempre. Um tapa na cara da frígida.

 3) Isaura (Laura Cardoso) em Mulheres de Areia: Mãe das gêmeas Ruth e Raquel (Glória Pires), Isaura não escondia a sua predileção pela filha malvada. Tão ambiciosa quanto ela, dividiu opiniões pelo excesso de cuidados com a vilã e o pouco apego à filha recatada. Sem dúvida, um dos inúmeros grandes momentos de Laura Cardoso na TV.

2) Branca Letícia de Barros Mota (Bisa Virgem) em Por Amor: Essa inesquecível vilã foi o último grande personagem que Suzana Vieira interpretou nas novelas. Com o texto inspirado de Manoel Carlos nas mãos, a atriz deitou e rolou. Branca era dona de um senso de humor ferino e uma nascente de pérolas. Dentre as minhas preferidas, estão: “Eu sou feliz, mas não sou alegre. Alegria é coisa de povinho. A mulher chique não ri. No máximo, sorri” e “Adão só não dormiu com outra porque só tinha Eva no paraíso”. Controladora, ciumenta e narcisista, a dondoca reprimia uma paixão antiga por Atílio (Antonio Fagundes) e não escondia a predileção pelo filho mais velho, Marcelo (Fábio Assunção), por acreditar que ele era o fruto de sua relação com o ex-amante. Na reta final, descobre-se que o tal fruto é Leonardo (Murilo Benício), o “patinho feio” que passou a trama inteira recebendo pancadas da mãe.

1) Odete Roitman (Beatriz Segall) em Vale Tudo: É claro que o posto de “Mãe Má” não poderia ser de outra! A antológica vilã da dramaturgia, brilhantemente defendida por Beatriz Segall, causou celeuma em 1988 e repete o frisson agora, mais de vinte anos depois, na reprise do Viva. Poderia desfiar um longo rosário a respeito das maldades da personagem, mas jogo luz sobre uma, que em minha opinião, simboliza TUDO do que esse Chimbinha fail é capaz: o envenenamento da maionese da Paladar.

MENÇÃO HONROSA

Ivan Gomes, que ultrapassou os limites da ficção e botou Lourdes Mesquita no chinelo. “Mãe Má” da vida real, abandonou este que vos escreve por uma coxinha (!) numa madrugada fria e chuvosa. Sem o menor remorso, saiu da padaria, e foi pro baile procurar o seu negão.

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