quinta-feira, 16 de junho de 2011

No tapete atrás da porta

Por Eddy Fernandes

Como agora liberou geral e o nosso digníssimo tatu-mestre Walter de Azevedo permitiu as postagens sobre televisão, eu resolvi ressurgir das cinzas declarando toda a minha afeição para com as personagens abandonadas da nossa dramaturgia. São elas:

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5 – MADÔ (DÉBORA BLOCH) em A Lua Me Disse: Impossível esquecer a peruíssima filha de Leontina Sá Marques (Aracy Balabanian) e suas trapalhadas com a empregada Whitney (Mary Sheyla). Mas Madô, no entanto, não era uma personagem unicamente cômica. Dentro do universo da novela, ela também sofreu bastante. Inesquecíveis sequências de muito chororô, pela perda de Lúcio (Maurício Mattar) ao som da maravilhosa “Dia Azul” de Djavan. Como num bom folhetim, à certa altura, Madô se reinventou, chegando a alcançar sua independência financeira, no comando do programa de auditório “Francamente Madô”. É isso aí, respira no saco!

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4 – EUGÊNIA (Françoise Forton) em Explode Coração: Essa entra mais por uma questão afetiva, afinal tenho pouquíssimas recordações da novela de Glória Perez. Mas confesso que me intrigava bastante ver aquela mulher deslizando pelas portas e paredes num choro convulsivo.

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3 – RAQUEL (MARIA LUÍSA MENDONÇA) em Queridos Amigos: A herdeira direta de Renata Sorrah, mais uma vez me emocionou com sua sensível dona de casa, que depois de se anular a vida inteira pelo marido, recebe de presente um homérico pé na bunda e após passar dezenas de cenas chorando [haja disposição, cristal chinês e colírio, Maria Luísa!] sacode a poeira e dá a volta por cima.

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2 – MARTA (TEREZA RACHEL) em Baila Comigo: Especialista em vilãs, a nossa eterna Rainha Valentine não fugiu à regra nessa primeira novela de Manoel Carlos no horário nobre. Na pele da dondoca insensível, algo preconceituosa e intolerante, a “bruxinha” deu show. Mas como o desempenho da atriz não é o foco principal, vamos a uma retrospectiva básica da trajetória da personagem, que eu pude conhecer num compacto da trama no início deste ano

Casada com Quim (Raul Cortez, o primeiro galã de meia idade, tão recorrente nas novelas do autor, que anos mais tarde seria interpretado por Zé Mayer), crente de que jamais poderá ser mãe, é envolvida numa trama sórdida pelo marido, que depois de engravidar uma das funcionárias da empresa do sogro, Helena (Lílian Lemmertz), se torna pai de gêmeos; e fecha um acordo com a ex-amante e o marido dela, ficando cada um com um bebê. Marta, então, cria João Vítor (Tony Ramos) como filho, mesmo rejeitando-o e vendo nele o seu fracasso como mulher, já que não conseguiu dar ao marido o filho homem que ele tanto desejava. Apesar dos contornos melodramáticos, Marta não era uma vilã clássica. Muito humana, cheia de nuances, defeitos e qualidades, fugia de qualquer estereótipo. Talvez por isso, nunca a tenha conseguido enxergar como antagonista. Sempre a vi como uma mulher amargurada, até meio submissa, que além de administrar o lar e cuidar da educação de um filho que não era seu, tinha que engolir as constantes infidelidades do marido.

[o mesmo papel seria reprisado, anos mais tarde, por Lília Cabral em Viver a Vida].

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1 – FERNANDA (DINA SFAT) em Selva de Pedra: A princípio, este primeiro lugar pode soar meio injusto, afinal são anos de novelas e eu já presenciei muitas cenas antológicas de abandono; e nunca vi a trama de Janete Clair [ou seja, sem parâmetros]. Mas confesso que desta vez fui fisgado pelo afetivo. A imagem que tenho é a de Dina Sfat correndo pela nave da igreja, enquanto destroçava o próprio vestido de noiva, numa das cenas mais intensas e perturbadoras da nossa dramaturgia. O olhar arrebatador de Fernanda/Dina me impressionou muito na primeira vez que vi o vídeo e me impressionará sempre, porque nunca vou conseguir desvendar o que há por detrás destes olhos; a dubiedade da expressão enriqueceu Fernanda, mas, no entanto, não era da personagem e sim da intérprete... a nossa eterna contradição Dina Sfat.

Então, é o que tem pra hoje.

Espero que vocês tenham gostado.

Volto na semana que vem, nessa mesma bate-hora, nesse mesmo bate-canal... quando der, abraço.

2 comentários:

  1. Confesso que a abandonada da Françoise é tb é uma esquecida pra mim...rs! Nem lembrava mais dela. Quando li o título, me remeti imediatamente à Antônia de "De Corpo e alma", já que até o tema dela era "Atrás da Porta". E ela conseguiu a proeza de ser abandonada duas vezes por Diogo (Tarcisio Meira), que a trocou por Betina (Bruna Lombardi) e depois por Paloma (Cristiana Oliveira). E foi uma surpresa para o público ver Betty Faria em um papel tão submisso após o furacão Tieta. E Fernanda realmente é super abandonada! Merece o lugar mais alto do pódio. Adorei, sobrinho! Parabéns!

    P.S: Ah, quase ia esquecendo da menção honrosa à Heleninha Roitman, essa linda que tanto amamos...rs!

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  2. Legal sua lista das mal amadas e mal comidas, Eddy!

    Eu cito outra: Antônia de Petty Faria em De Corpo e Alma,
    num de seus melhores papéis
    e a célebre frase:

    [agarrada ao pé de Tarcísio Meira, chorando]

    TIOCOOOO, FOCÊ NÃO FAI ME APANTONAR!

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