Aerosmith Inc.

Fã que é fã não desiste nunca, mesmo que o seu ídolo dê umas escorregadas na nasca de bacana de vez em quando. Acho que esse é o caso de fãs do Aerosmith, como eu. Desde 2001 sem lançar um CD de inéditas – o último CD de estúdio foi o Honkin’ On Bobo [2004], cheio de versões de clássicos do Blues e uma composição própria. Daí pra frente, foi um CD ao vivo, dois shows no Brasil – e não fui a nenhum deles porque sou pobre e moro longe – uma promessa, um disco solo do Joe Perry, duas autobiografias, um júri do American Idol e mui-ta fo-fo-ca.

Para resumir a ópera, a promessa foi: vai sair um CD inédito. A realidade é que até o momento esse tal disco inédito está sendo forte candidato a ocupar o lugar que Chinese Democracy, do Guns, deixou vago na categoria Lendas Urbanas do Rock [a propósito, ouvi o Chinese logo que saiu e achei uma belíssima droga, um abraço]. Nesse meio tempo, Steven foi bater em clínica de reabilitação, saiu da banda, não saiu da banda, foi se candidatar a vocalista do Led Zeppelin enquanto o *resto da banda* foi correr atrás de outros candidatos a novo vocalista. Depois meio que ficou o dito pelo não dito e o noticiário sobre os Bad Boys from Boston virou uma coisa meio Os Sapos, de Manuel Bandeira:

Foi! Não foi!
Foi! Não foi!

E assim sucessivamente…

No meio desse cabaré de fatos e boatos, a banda acabou se tornando uma big tenda sob a qual todos os integrantes apresentam seus projetos paralelos, já que mostrar serviço em conjunto, que é bom, nada. O mais recente [e que inspirou a feitura desse texto], o lançamento do clipe de (It) Feels so good, do Steven Tyler. Com participação especial de Nicole Scherzinger, que eu total ignorava a existência, mas é oriunda das Pussycat Dolls [que, adivinhem só, eu também ignorava. Super por fora da pop music, eu].

Eis o vídeo:

É uma música bonitinha, legalzinha, perfeita para ouvir em alto volume enquanto dirige por uma estrada preferencialmente sem buracos e sente o vento bagunçar o seu cabelo [ou seja, não ia ser uma experiência muito agradável ouvi-la na BR 101]. Mas tem aquele encosto espírito que meio que tomou conta da banda nos últimos anos: composições feitas em parceria com gente *de fora*, com pegada pop e potencial para virar chiclete, como o Just Push Play [2001] praticamente todo e singles como Lay It Down [eu curti, mal foi divulgada e nem clipe teve] e Girls of Summer [uma desgraça que ficou um tempão na parada do Disk MTV]. Essa coisa meio “caixa de bombom”: é gostoso, mas chega uma hora em que enjoa e você não quer mais ver o Sonho de Valsa na sua frente.

O clipe, então, segue a receita que fez a fama dos vídeos da banda dos anos 90 pra cá: mulheres bonitas esbanjando sensualidade. (It) Feels so good também flerta com o clipe de Pink [single do Nine Lives, de 1997], ao botar uma tchurma meio… alternativa em algumas cenas.

Ah, e tem merchan da Sony. Hahahaah.

Então, quem quer que ouça esse single e também o Love Lives, primeiro solo de Tyler, feito especialmente para uma produção japonesa, vai lembrar do encosto da levada pop que chegou a angariar novos fãs para o grupo e aborrecer boa parte dos antigos. Podem até pensar “sim, o Aerosmith poderia gravar, pra que um projeto solo, hein, Tyler?” A resposta parece elementar: a identidade pessoal do cantor – que, inegavelmente, é the life and soul of the party estava se sobressaindo à identidade da banda, e isso, naturalmente, deve gerar atritos quando os outros quatro integrantes querem outra coisa. Então, antes de ver o projeto solo de Steven Tyler como uma pá de cal no futuro da banda, vejo como uma válvula de escape que pode trazer de volta aos trabalhos vindouros do Aerosmith o equilíbrio da combinação rock ‘n roll + uma balada aqui e ali.

O.K., pode até vir a ser uma pá de cal, a gente nunca sabe. Mas a fã aqui, que já desacreditou muito, vai tentar manter acesa uma centelha de fé. Vai que vem coisa boa por aí.