domingo, 24 de abril de 2011

Deserto



Era um local completamente desolado. Não havia vivalma, principalmente naquela hora do dia. Estava se aproximando do meio dia e o sol já estava castigando sua delicada pele.
Ela não sabia como havia chegado àquele lugar, só sabia que precisava urgentemente se proteger daquele sol. O sol nunca fez bem a ela, e este estava conseguindo fazer com que suas poucas forças chegassem ao limite.
A cidade parecia uma cidade fantasma. As ruas estreitas, com suas casas pequenas e vazias fazia piorar a estranha sensação de abandono que ela sentia cada vez mais forte. Ela estava procurando por alguém. Alguém que ela conhecia, mas que não lembrava nem ao menos do rosto. Mas era uma presença constante em seu pensamento e em seu coração. Ao tê-lo em seu coração as coisas pareciam muito mais fáceis.
Mas não agora. Agora quanto mais ela andava por aquelas ruas debaixo daquele sol quente, mais ela se sentia sozinha. Ela chamava por ele em seu pensamento. Chamava para tirá-la daquele inferno. Ela nunca gostara de sol, e estar perdida em um local vazio e quente – seus dois piores medos.
Uma lembrança de uma foto veio a sua cabeça enquanto ela chegava a um pequeno pedaço de sombra. Aquela lembrança estava apertando seu coração de maneira insuportável. A lembrança dele. Aqueles olhos castanhos que ao sorrir brilhavam de uma maneira que nem mesmo ele sabia. Um sorriso naturalmente encantador que ela seria capaz de ficar horas olhando pra ele. Um cabelo liso e castanho que ela mataria somente para ter a oportunidade de passar as mãos nele numa pele alva de quem não conhece o que é ficar debaixo de um sol quente.
Preciso de você...” – Era o que ela estava pensando naquele exato momento.
No mesmo instante ela encontra uma porta aberta. Ela não quis saber se era seguro ou não, para fugir daquele sol, ela entraria em qualquer lugar, mesmo em um local completamente escuro, por mais que isso a assustasse muito.
Naquela casa escura, ela foi lentamente encostando-se à parede. Quanto mais ela entrava naquele cômodo, mais ela ficava assustada e sozinha. A pior coisa pra ela era estar sozinha. Era seu maior medo.
Ficou parada, respirando forte. Ficava escutando os sons que vinham lá de fora. Esses sons eram assustadores. Vozes desconhecidas, assustadoras, procurando por ela. Ela que tinha algo que eles estavam querendo. O seu coração.
Aquele coração puro, capaz de amar incondicionalmente... Mas agora esse mesmo coração estava alquebrado, machucado, sangrando... E isso a estava tornando-a fraca, por isso ela precisava fugir dali. Se esconder, desaparecer. Ir para um local seguro. E aparentemente aquela casa escura parecia ser o local mais seguro para ela naquele momento.
Silenciosamente ela pedia socorro. As vozes aumentavam cada vez mais e ela ficava cada vez mais assustada. Ela detestava se sentir tão frágil como agora. Agora que a lembrança daquela foto permanecia em seu pensamento, ela só queria estar nos braços dele. E isso só fazia aumentar cada vez mais a sensação de fragilidade.
As lágrimas começaram a cair de seus olhos. Péssimo sinal, isso avisava que ela estava se rendendo ao desespero, o que obviamente era potencialmente problemático. Quanto mais ela chorava, mais ela se encolhia no canto daquele quarto escuro. A casa estava insuportavelmente quente, e ela estava sentindo sua garganta seca. Ela precisava de água.
Começou a lembrar dos dias de outono. Não eram completamente frios como os dias de inverno. E suas cores amareladas sempre acalmavam sua alma. Ela desejava fortemente estar em um local com um clima assim... Mas o calor estava ganhando e ela estava ficando cada vez mais fraca.
As vozes agora estavam dentro daquela casa. Fraca do jeito que ela estava não conseguiria sair correndo. Ela se escondeu o máximo que pode abaixada ao lado daquela pequena cama. As vozes cada vez mais fortes, sinal de que eles estavam se aproximando do quarto. O desespero agora era completo.
Onde você está agora? Por que não está comigo?” – Os pensamentos que ela tinha se resumiam a ele e ao som de sua doce voz. Seu doce sotaque, seu sorriso. Encostou sua cabeça em suas pernas soluçando silenciosamente pelo choro que não parava.
Estava perdendo a consciência. O calor estava ganhando. Ela não conseguiria sair daquele cômodo em segurança. Estaria entregue às mãos de seus algozes. Viu, de longe, uma luz entrando no quarto. A porta estava aberta e pessoas estavam entrando naquele quarto. Obviamente eles já haviam a avistado encostada ao lado daquela cama. As pessoas falavam, mas ela não conseguia entender o que diziam. Estava fraca demais para concentrar-se no que falavam.
Ela avistou um par de olhos quentes... Aqueles olhos... Ela conhecia aqueles olhos, mas não se lembrava de onde... Eles estavam passando tranquilidade... Mas não houve tempo para lembrar-se de onde ela o conhecia. Ao mesmo tempo em que sua consciência sumiu daquele cômodo, seus olhos se abriam para a calma, claridade e clima ameno de sua cama. Fora tudo um sonho...
Ao olhar para o lado, a foto de um tempo feliz... Que não voltaria mais! A foto dele sorrindo...

Vanessa (Lobinha).


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