segunda-feira, 4 de abril de 2011

Alô?

Ah, o telefone! Durante a infância eu era louca para ter um em casa. E na ausência do aparelho próprio, ia me divertir nas cabines telefônicas da então Telpe ou nos orelhões vermelhos, de ficha, que se encontravam em todas as esquinas dessa terra. Enquanto minha mãe falava com os parentes distantes e amigas mais distantes ainda, eu passava horas conversando com o vazio absoluto – ou melhor, com um dos meus amigos imaginários. É, amigos imaginários, eu era tão pequenininha...


O telefone na esquina me atraía, em grande parte pela cor. Achava telefone vermelho lindo e nunca tive um em casa – só aparelho branco, cinza, no máximo um cor-de-vinho, que não durou muito. Fazia coleção de fichas para ligações locais e fazia chamadas que quase nunca se completavam. Um dia, liguei e completou: fui cair em um sistema de previsões astrológicas. Ou algo parecido.



"Ligue djá!" (Shanti Ananda, ex-Walter Mercado)

E desliguei nas carreiras, naturalmente. Eu não ia dizer “oi, eu sou uma menina de sete anos em um telefone público e disquei seu número por acaso.” Ia?

Veio a privatização das companhias telefônicas, chegaram os orelhões azuis, as fichas que eu amava deram lugar aos cartões coloridos que logo virariam item para coleção. (não lembro com muita exatidão da ordem das coisas, mas tudo bem) E descobrimos aqueles serviços 0900 que cobravam aproximadamente 90 centavos por minuto (ou seria melhor dizer por segundo?). Os inesquecíveis (e toscos) comerciais do chat-chat-chat-chatline, aquele povo bunito se conhecendo pelo telefone e marcando balada, etc e tal. Aquele negócio era tão tentador para crianças sozinhas em casa quanto passar um trote para o vizinho. Uma vez, em companhia de coleguinhas (porque essas presepadas nós nunca fazemos sozinhos, fato), passei pela experiência de ligar para um disque-amizade da vida. Uma das meninas discou e a gente esperava o atendimento.

Não demorou muito para uma garota com voz de patricinha manhosa chamando o namorado de “meu bebê” atender a gente e perguntar o nome da moçoila. Um nome estranho inventado na hora e a garotinha manhosa do outro lado da linha respondeu:

- Aguarde um momento, senhorita ___________ (não lembro mais o sobrenome da nossa personagem, foi mal). Já vamos chamar o seu gatinho!

*click* Desligamos.

Aquela chamada não deve ter durado mais que cinco minutos. Mas vocês devem imaginar a beleza que ficou a conta telefônica no fim do mês.

Teve também aquela tentativa de ligação internacional no orelhão, na hora do recreio. Não, não consegui falar com nenhum ianque. E não houve uma segunda tentativa.

E hoje? Hoje esse aparelho aqui ao meu lado na mesa de trabalho não é mais tão atraente... Ele não toca com a frequência de antes e, quando toca, é um tal de “atende você” “não, atende você” aqui em casa, na maioria das vezes sobrando para mim. Tem as atendentes eletrônicas do outro lado e suas gravações que desanimam e estressam qualquer criatura. Aquela musiquinha chata que você é obrigado a ouvir enquanto procuram um atendente de verdade para falar com você (ou não). A dificuldade de marcar uma consulta médica por telefone.

Mas nem tudo é tristeza no fim. Vieram as promoções de telefonia celular e a tecnologia voIP para me salvar da saudade de ouvir a voz de alguém querido... Porque alguma coisa boa tinha de haver, não é mesmo?

P.S.: Sim, é verdade. Walter Mercado mudou de nome! Descobri enquanto procurava esta simpática foto que ilustra nosso post.

5 comentários:

  1. Tenho profunda antipatia por telefone, mas adoro os aparelhos, sempre tão bonitos. Quando toca aqui em casa, só atendo se estiver sozinho e, mesmo assim, às vezes deixo tocar kk.
    Walter Mercado foi a cereja do bolo nesse texto haha

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  2. "Tenho uma profunda antipatia por telefone" [2]

    Ah, mas orelhão eu achava interessante, sim! Eu, que sempre fui aquele comportadinho, que só participavam das traquinagens como observador e, no máximo, acompanhante, ria baldes com os coleguinhas brincando de passar trote.

    E o Walter Mercado mudou de nome? Chocado em Cristo! #Cleyciannefeelings

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  3. Só vejo fichas agora em galerias eróticas...rsrsrs! Recordar é viver, né minha gente? Adorei, Evinha!

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  4. Evinha, adorei o texto e tudo, mas fiquei com uma dúvida danada. Afinal de contas, Shanti Ananda (ex-Walter Mercado) é homem ou mulher?

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  5. Rapaz, não sei... Acho que esse continuará sendo um dos mistérios misteriosos da humanidade, hahaha. Agora quando eu vi o novo nome dele pensei "ei, esse não era o nome da personagem da Carolina Oliveira em Caminho das Índias??"

    Obrigada pelos comentários, meninos! =D

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