quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quando o infantil não é tão infantil.

Ontem finalmente fui assistir Harry Potter e As Relíquias da Morte Parte 1. Muitos estranham o fato de eu gostar da série, alegando que é uma história infantil, etc, etc. Na minha opinião Harry Potter é o que tem de melhor atualmente em literatura infanto juvenil, moderna literatura infanto juvenil, claro. Claro que também não sou um especialista no assunto, mas falaremos disso mais adiante.
O filme correspondeu a todas as minhas expectativas em relação à produção, atuações e toda a parte técnica envolvida. É um blockbuster, com todos os efeitos especiais a que os apreciadores do gênero tem direito. Mas o que mais me chamou atenção, e confesso que já esperava isso, é que Harry Potter e As Relíquias da Morte, apesar do universo mágico em que ocorre, não é um filme infantil. Está longe disso.
Quem vê o primeiro filme (ou lê o primeiro livro) da série, não pode imaginar que as coisas vão chegar ao ponto em que chegam na sétima aventura. Em Harry Potter e A Pedra Filosofal, fomos apresentados, assim como o próprio Harry (com 11 anos então), a todo um mundo de fantasia. A história do menino bruxo que foi criado sem saber a sua origem e que descobre ter uma vaga na maior escola de bruxaria do mundo. Com esse conhecimento, outros fatos são revelados. Seus pais não morreram de acidente de carro, mas foram assassinados pelo cruel Lord Voldemort, o bruxo mais temido de sua época. Por alguma razão (que vai sendo explicada ao longo da série), Harry sobreviveu a um feitiço mortal e ainda por cima, foi responsável pelo desaparecimento de Voldemort. Anos depois, Harry deve impedir a volta do bruxo, que precisa da pedra filosofal para recuperar seu corpo. O enredo é infantil e batido, sem novidades, mas levado com competência pela autora J.K. Rowlings. Daí pra frente cada livro/filme corresponde a um ano escolar do protagonista e seus amigos e acontece então a parte mais interessante e mais inteligente do projeto da autora: Os personagens deixam aos poucos de ser crianças e seus problemas vão se tornando cada vez mais adultos. Os personagens amadurecem junto com os seus leitores.
Quem acompanhou a série, pode perceber que a cada história, o enredo tomava tons mais sombrios, quase violentos. Em Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban, os leitores são apresentados aos dementadores, criaturas que sugam toda a felicidade e esperança existentes nas pessoas. Quando atacada por um dementador, a vítima vira uma casca sem alma. Essa é a metáfora usada pela autora para falar da depressão e de sua vontade de cometer suicídio. Claro que tudo isso é apresentado de forma gradativa, sem chocar, mas já mostrando que aquele enredo infantil vai um pouco mais além do que se espera.
A quinta história talvez seja a da grande virada. Em Harry Potter e A Ordem da Fênix, o Ministério da Magia (sim, todo o universo mágico é regido por leis como as nossas), não querendo de desestabilizar com a suposta volta à vida de Lord Voldemort, acaba fazendo uso da imprensa oficial para desacreditar seus adversários e só publicar o que é interesse do governo. Controle da imprensa pelo governo, organizações políticas clandestinas, espionagem, traição e morte. Temas bem pouco prováveis em um livro infantil. É aqui que conhecemos a história de Neville Longbottom, um dos amigos de Harry. Os pais do menino vivem em um hospital, porque foram torturados pelos seguidores de Voldemort até enlouquecerem.
Em Harry Potter e As Relíquias da Morte, uma das cenas que mais me chamou atenção foi a de Harry e seus amigos, Rony e Hermione, agora fugitivos, já que os aliados de Voldemort assumiram o Ministério da Magia, andando por lugares desolados enquanto no rádio, o locutor passa os nomes das pessoas desaparecidas, provavelmente mortas por se colocarem contra o atual regime. Me lembrou um pouco os filmes Resident Evil e Extermínio. Outra cena que gostei foi a de Harry e Rony prisioneiros em uma masmorra e ouvindo os gritos de Hermione, que está sendo torturada no andar de cima.
Claro que as tintas não pesam demais, é um filme para diversão e com público específico, mas vale a pena observar esse enredo com outros olhos.
Quem leu a obra dos Irmãos Grimm, sabe que requintes de crueldade não são novidade nas histórias infantis, mas o cinema sempre deu um jeito de amenizar isso. Na Cinderela original, a Madrasta é obrigada a vestir sapatos de ferro em brasa, o que obviamente não aconteceu na história da Disney. Isso não tira o mérito de Harry Potter, que, se não inova, pelo menos tenta fugir um pouco da mesmice atual.
A verdade é que a série Harry Potter conseguiu um feito. Criou milhões de leitores em uma época em que as crianças e adolescentes cada vez mais se distanciam desse hábito. A estrutura criada em forma de saga e que atrela o crescimento dos personagens ao dos leitores é o grande acerto da autora, já que ela cativa o público, que se identifica com os protagonistas e com seus problemas, já que, além dos temas citados anteriormente, outros são discutidos, como o primeiro amor, entrada na adolescência, etc , etc.
Quem tentar ler, não espere grande profundiade, esse não é o objetivo, mas não podemos negar a criatividade da autora que, entre outros méritos, criou um universo crível e cheio de detalhes, o que dá grande veracidade à história. É essa a fórmula que conquistou multidões e que, sem dúvida, será copiada de agora adiante. Os personagens crescem, a história evolui e, no final das contas, o infantil acaba não sendo tão infantil.

4 comentários:

  1. Gostei bastante do texto, viu? Estou entrando aos pouquinhos nesse universo Potteriano e ando ficando cada vez mais interessada. :)
    =***

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  2. Eu não gostei do filme.
    Acho que foi uma desculpa para ganhar dinheiro dos fãs. Metade do filme poderia ter sido excluida, principalmente as briguinhas adolescentes entre eles, e assim passar logo para o que interessa, que é todo o outro filme. Coloca um filme de 3h de duração, como foram os Senhor dos Anéis, e pronto. Desnecessária boa parte desse filme.
    E outra... Tem umas situações absurdas. As cenas que se seguem à tortura de Hermiona são péssimas. Os bruxos surgem do nada.
    A cena do lago, então. Com Hermione por perto, Harry entra só no lago?
    Foi o mais fraco de todos, para mim. E olha que eu havia achado o 6 MUITO fraco. Mas acho que o próximo filme será ducaralho, afinal tudo vai acontecer nele!

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  3. Eu penetrei de cabeça no universo Harry Potter desde os 12 anos de idade, virando fã confesso e inconteste da série. Li todos os livros, e me envolvi com a história. Não assisti, ainda, às Relíquias da Morte, mas concordo plenamente com o Walter ao perceber que o grau de complexidade da trama cresce junto com Harry.

    O universo mágico criado por Rowling se mostra tão completo e coerente que nos faz crer que pode ser real. Confesso que, até ali dos meus 15 anos, esperei chegar, com atraso, a minha carta de Hogwarts, me explicando que tudo aquilo que eu fazia de estranho era magia. hahaha...

    Excelente texto, Walter!

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  4. Não sou muito obrigado a compactuar com isso, mas enfim. Li os três primeiros livros do Harry Potter, naquele afã infanto-juvenil, idos de 2001/02. Achei legal e tudo, mas hoje não sei se teria a mesma visão.

    Sou meio contra esses blockbusters. Acho que se preocupam muito com o aspecto fantástico da coisa (efeitos especiais e tal) e ficam devendo no que realmente interessa: como texto, direção, fotografia. Mas, sei lá, aqui nem dá muito pra fazer esse tipo de analogia, porque a alma do HP é esse universo mágico.

    Tô super animado pro filme (not!), tanto que ele entrou em cartaz há quilos de semanas, eu já vi zil filmes (inclusive o do Bruno Mazzeo) e tô passando longe do HP. A histeria das pré-teens sem pêlos pubianos eu não sou obrigado a aguentar.

    Desculpa fãs. Desculpa mundo. =P

    PS - O texto tá ótimo! Eu que sou chato mesmo.

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