sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O tempo...esse implacável ceifador de galãs...

Bom, na verdade esse post seria pra falar da morte do Anselmo Duarte, mas resolvi mudar o tema depois de ter visto uma reportagem. Anselmo Duarte foi um dos nomes mas importantes do cinema nacional (se você não sabe quem ele é, retire-se imediatamente desse blog e morra logo após). Ator, diretor, produtor, galã....enfim, um homem de cinema. Dirigiu a clássica versão de O Pagador de Promessas, inspirado na obra de Dias Gomes e estrelado por Leonardo Villar, Glória Menezes, Geraldo Del Rey, Dionísio Azevedo e Norma Bengell, e que foi vencedora da Palma de Ouro em Cannes. Tá certo que ele já tinha passado dos 80, mas mesmo assim é ruim ver alguém assim partir. O Canal Brasil tá sempre passando filmes do Anselmo, da época em que ele ainda era galã. Um cara bonito mesmo. Na reportagem sobre o velório dele, vi uma cena de um velhinho consolando o filho do Anselmo. Um velhino muito carinhoso, que segurava o rosto do rapaz, beijava sua testa e o abraçava. Para minha surpresa, o velhinho era Tarcísio Meira. Só o reconheci depois, quando falaram o nome dele. Foi aí que a minha ficha caiu pesado. Tarcísio, o eterno galã da nossa televisão...é um velhinho. Claro que quem foi rei não perde a majestade. Ele continua com seu porte, seu jeito sedutor, mas a idade chegou forte. Quando conheci o Tarcísio (pela TV, claro), ele já não era mais nenhum mocinho, já havia passado dos 40, mas era O CARA. Quem viu as interpretações dele como Capitão Rodrigo Cambará em O Tempo e O Vento (1985) e Renato Villar em Roda de Fogo (1986/1987) sabe do que eu estou falando. Ninguém conseguia resistir a ele, nem as mocinhas das novelas e nem o público. Tarcísio é daquele tipo de galã que não se faz mais. Gente como Clark Gable, James Dean e Rock Hudson. Jogaram a forma fora. Nada contra os atuais, mas eles não tem essa aura. Pra quem cresceu vendo televisão, como eu, é estranho ver esses ícones envelhecendo. Talvez a televisão ainda seja nova demais e estejamos assistindo agora ao envelhecimento da primeira grande leva de astros do veículo. Não que eles só tenham ficado velhos agora, mas quando se chega na casa dos 70, a coisa fica bem evidente, principalmente para aqueles que, além dos atrativos artísticos, sempre contaram com a beleza para o seu trabalho. O fato é que Tarcísio, novo ou velho, protagonizando ou não, é o grande nome da nossa televisão. Lugar esse conquistado com mérito, graças ao seu talento, sua dedicação e também por sua beleza. Vendo aquela cena em que ele dava seu apoio tão sincero ao filho de Anselmo, numa hora tão difícil, pensei : "Que dignidade! Que velhinho Porreta! Que bom que nós temos o Tarcísio Meira!"

sábado, 7 de novembro de 2009

Vivendo a Vida do Maneco...ou não.

Depois de um intervalo de dois anos, Manoel Carlos volta ao horário nobre da Globo. Autor de sucessos como A Sucessora (1978/1979), Baila Comigo (1981), História de Amor (1995/1996) Por Amor (1997/1998) e Laços de Família (2000), Maneco é conhecido como o mais cotidiano de nossos novelistas. Isso devido ao texto, sempre muito realista, que discute as coisas simples da vida. Impossível não se reconhecer no que Manoel Carlos escreve.
Todo autor tem a sua identidade, a sua forma de contar histórias, e Manoel Carlos é identificado pela exatidão na forma de retratar o dia-a-dia. Pelo menos era assim até há algum tempo. Viver a Vida, atual trama de Maneco, sofre uma série de críticas que vão da escalação da atriz principal até a lentidão no desenvolvimento da história. Até mesmo uma cena a respeito da qualidade de uma empadinha já foi ao ar. Será que a fórmula de Manoel Carlos, antes enaltecida por público e crítica, se esgotou? Será que o telespectador cansou de ver as personagens conversando sobre o preço da batata na feira? A minha opinião particular é de que, talvez a novela peque em dois aspectos: A total falta de um bom folhetim, pelo menos até agora; e o ambiente extremamente refinado dos protagonistas. Explico. Todas as Helenas de Manoel Carlos, até um certo momento, eram mulheres de classe média, batalhando pra sobreviver, enfrentando problemas como as contas pra pagar, o relacionamento com pais e filhos, o trabalho, etc. Personagens humanas com as quais o telespectador se identificava. Mesmo a Helena de Laços de Família, apesar de um pouco melhor de vida, ainda convivia com os vizinhos, brigava na portaria, enfim, agia como uma pessoa comum. A partir de Mulheres Apaixonadas, isso mudou. Tanto Christiane Torloni quanto Taís Araújo encararam personagens isoladas no seu mundo de classe média alta, ou rica mesmo, afastando-se assim dos telespectadores. Vocês podem argumentar que o público gosta de personagens ricos. Branca Letícia (Suzana Vieira) tem seguidores até hoje, assim como Alma Flora (Marieta Severo). Então, o que aconteceu com as Helenas? Porque o público televisivo torce o nariz para elas? Acredito que o que causa isso é a total falta de um folhetim. Em Baila Comigo, Helena (Lilian Lemmertz) não enfrentava apenas os problemas do cotidiano. Ela escondia do filho Quinzinho (Tony Ramos) que, além de ele não ser filho do Dr. Plínio (Fernando Torres), ainda tinha um irmão gêmeo, João Vítor (Tony Ramos). Existe algum entrecho mais folhetinesco do que esse? Em Felicidade (1991/1992), Helena (Maitê Proença) cria sozinha a filha Bia (Tatyane Goulart), sem revelar que ela é filha de Álvaro (Tony Ramos) e tem de enfrentar as maldades da rival, Débora (Vivianne Pasmanter), que persegue tanto nossa protagonista quanto sua filha. As vidas desses personagens vão ficando cada vez mais próximas quando Helena vai trabalhar para dona Cândida (Laura Cardoso), mãe de Álvaro. Para complicar, Bia se torna amiga do pequeno Alvinho (Eduardo Caldas), filho de Álvaro e Débora, sem saber que o menino é seu irmão. Novela mexicana, folhetim. Em Por Amor, Maneco apresente, talvez, o seu entrecho mais novelístico. Helena (Regina Duarte) dá a luz no mesmo dia que a filha Eduarda (Gabriela Duarte). Por complicações, o filho de Eduarda morre e Helena, para que a filha não sofra, troca as crianças sem que ninguém saiba, dando o seu próprio filho para a moça criar. Vera Fischer não ficou atrás em Laços de Família. Além de abrir mão do amor de Edu (Reynaldo Gianecchini) em favor da filha Camila (Carolina Dieckmann), ainda se vê obrigada a terminar o romance com Miguel (Tony Ramos), para poder ter um filho com Pedro (José Mayer), verdadeiro pai de Camila, e assim gerar uma criança capaz de doar a medula para Camila, que sofre de leucemia. As Helenas de Mulheres Apaixonadas e Viver a Vida não sofrem esses conflitos. Elas não abrem mão de nada por amor. Elas não se doam. Vivem apenas no seu mundo refinado do Leblon, desfilando tédio, inseguranças e problemas existenciais. Em Páginas da Vida (2006/2007), a personagem central, vivida por Regina Duarte, já ensaiava isso. Apesar de ter pego a pequena Clarinha (Joana Morcazel) para criar com o consentimento um tanto o quanto obscuro de Marta (Lília Cabral), avó da criança, a trama se diluiu num emaranhado de personagens com pouca história para contar. O grande entrecho acabou se perdendo e ficou em segundo plano. É claro que existem as exceções. A mesma Regina Duarte, quando deu vida a sua primeira Helena em História de Amor, não tinha por trás de si um grande folhetim. Na verdade tinha, mas isso só foi revelado no capítulo final. Criara Joyce (Carla Marins) como filha, sendo que na verdade era tia da moça. Nesse caso, o entrecho não fez falta. O cotidiano servia como pano de fundo para uma história simples, mas bem contada. Uma fórmula difícil, mas que dessa vez, deu certo. Voltando a Viver a Vida, talvez o que mais incomode seja isso, a falta de história, a falta de folhetim, a falta de identificação com os personagens.
Em outras obras de Maneco, as personagens eram vistas trabalhando, o que quase não acontece em sua atual trama. Marcos (José Mayer), podre de rico, vive o dia passeando de iates, comprando jóias, fazendo viagens e...nada de trabalhar. Pode parecer que não, mas em uma novela que peca no quesito história e que alardeia uma pseudo realidade cotidiana, isso compromete. Chegamos então na nossa protagonista, Taís Araújo. Assistindo aos capítulos, não vejo motivo pra críticas tão fortes à moça. Taís brilhou em Xica da Silva, mas sempre foi uma atriz apenas correta. Sempre fez bem seus trabalhos, mas sem arroubos. Agora acusam a moça de ser a mesma de sempre. E qual ator/atriz, no naturalismo da tv, não é? Taís faz bem a sua Helena. Cumpre o que pede o roteiro. Se a personagem não é interessante, a culpa não é dela. Cabe a Manoel Carlos fazer com que as duas, personagem e história, se tornem atrativas ao público. Sabemos que ele tem talento para isso, mas creio que uma mudança na estrutura da novela seria necessária para que ocorram modificações tão profundas. É aguardar pra ver.